Na Bahia, vítima de assédio em ônibus fala sobre traumas e mudanças forçadas na rotina

Uma pesquisa feita pela ONG ActionAid revela que 86% das mulheres brasileiras já foram vítima de assédio em espaços públicos. O ônibus foi indicado por essas mulheres como o local onde elas mais tem medo de sofrer toques indesejados. Uma assistente administrativa de 34 anos passou por essa situação dentro de um coletivo, em Salvador. Cerca de um mês depois do crime, a vítima conta que ainda está traumatizada e fez diversas mudanças na rotina para evitar lembranças do assédio. A Polícia Civil investiga o caso.

Segundo a vítima, um homem ejaculou no braço dela dentro do coletivo. Ela estava em um do assentos do "corredor" e ele em pé. O homem suspeito é um cobrador de ônibus que alega ter incontinência urinária e nega o assédio.
Casada e mãe de três filhos, a assistente administrativa viu a vida mudar de uma hora para outra depois que foi assediada. “Ele se encostou ao meu lado, com um saco plástico na frente. Quando chegou naquela região ali da Barros Reis foi que eu senti que algo havia melado meu braço”, conta.
A mulher relatou que estava a caminho do trabalho quando tudo aconteceu. “A passageira que estava encostada na gente viu e ela começou a gritar dentro do ônibus. Nesse momento eu não tive reação”, desabafa a vítima.
Traumatizada, a assistente administrativa chegou a ficar duas semanas sem trabalhar, por medo de voltar a entrar em um ônibus. “Tem dias que eu chego a pegar três coletivos para chegar na minha casa. Antes era um só, era a única opção que eu tinha”, disse.
A vítima também comentou sobre como o trauma impactou a relação familiar. “Eu tenho filho pequeno e meu filho até hoje fala: ‘minha mãe, eu não aguento mais ver você chorando’. Eu só sei que eu não sou mais a mesma”, finalizou a vítima.

Investigação


O caso foi registrado pela delegada Jaqueline Gordilho e encaminhado à Justiça como “ato obsceno”. O cobrador de ônibus suspeito do assédio disse, em depoimento, que tem incontinência urinária. “Ele nega. Diz que é doente, que sofre de incontinência urinária, e foi urina”, contou a delegada.
Ainda de acordo com Jaqueline Gordilho, a polícia solicitou as imagens do circuito de segurança do ônibus, mas a empresa informou, por meio de um ofício, que as imagens já haviam sido apagadas. A Associação de Empresas de Transportes de Salvador (Integra) informou que cada empresa de ônibus decide quando deve apagar as imagens das câmeras e que não há uma regra geral definindo um prazo para isso.
O Sindicato dos Rodoviários, que dá assistência jurídica ao cobrador, informou que ele deve anexar ao processo o laudo médico que comprove a incontinência urinária. A entidade disse que não sabe informar se o rodoviário permanece em serviço.
“A gente espera que ele entregue esse laudo médico como foi solicitado pela delegada do caso, para comprovar isso tudo, e a gente mostrar que o companheiro não ejaculou”, disse Fábio Primo, vice-presidente do sindicato.
Além do medo de pegar ônibus, a vítima do assédio também falou sobre dificuldade para superar a vergonha. Para não ser reconhecida, a mulher chegou a mudar o corte de cabelo. “Eu fiquei com vergonha de sair na rua. Eu mudei o corte do meu cabelo. Eu fiz várias mudanças para que as pessoas não me conhecessem na rua”, explica.
De acordo com a delegada responsável pelo caso, até esta quinta-feira (20), nenhum laudo médico confirmando a incontinência urinária do suspeito foi entregue.

[G1 BA]

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